sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

Um caso da Alma (de Alma Welt)

(dos Contos Pampianos de Alma Welt)

Quando eu tinha dezenove anos, e portanto já estava órfã há seis (orfã de mãe, quero dizer), eu praticamente não tinha freios. A censura exercida pela Mutti (que na verdade eu introjetava muito pouco), não existindo mais, foi como uma comporta aberta para os meus desejos, que se confundiam com a minha própria noção de liberdade. O Vati, como já contei, experimentara criar-me como uma pequena pagã, e fora espantosamente ousado nessa sua experiência. Leituras clássicas e muito estímulo para as artes, eram a sua fórmula para dotar a minha sensualidade de um timbre distinto, nobre, portanto nada vulgar. Quanto ao que eu fizesse do meu corpo... seria simplesmente destino, desde que eu soubesse me defender, num sentido pragmático, de prevenção de maternidade indesejada, ou de sujeição voluntária por amor a um homem de caráter mais forte que o meu. Esse perigo havia, pois o timbre doce de minha personalidade, e uma certa “candura”, me podiam deixar vulnerável. Quanta vezes na vida eu me veria submissa, com certa volúpia quase masoquista! Quantas vezes eu seria atingida pela violência de desejos alheios, incontrolados e perigosos, maldosos mesmo. Entretanto, como o Vati previa, nada disso poderia verdadeiramente me destruir. Meu pai era um filósofo, e observava-me e à minha vida com uma distância contemplativa, como uma obra que ele criara, e que era uma obra de arte, a seu ver. O incrível, no entanto, é que corroborando essa visão, tendo a ver assim também a minha vida até hoje, e estou consciente de viver numa permanente dimensão poética.
“A vida, Alma, deve ser uma obra de arte, ou nada ser, minha filha. Chega de misérias psíquicas que se externam compondo existências miseráveis, farrapos anímicos que se arrastam pela vida”, dizia Werner Friedrich Welt, meu pai. Custei a perceber a nota de arrogância germânica que existia nesse seu axioma, no entanto mais romântico do que nazista. Pois meu pai rejeitava com sincera repulsa a doutrina nazi, que outrora meu avô, o velho Joachim Welt, professara mais ou menos secretamente.
Mas, como eu dizia, aos dezenove anos, eu, estando no auge de minha beleza, era uma verdadeira tentação para os homens que nos cercavam no cotidiano, portanto peões, jovens na sua maioria, mas que não ousariam se aproximar de mim, atravessar a linha ou o abismo, melhor dizendo, intransponível, social e cultural que nos separava. Entretanto a paixão de um jovem peão por mim se fez visível e foi, talvez, a sua desgraça. Mas é preciso que eu seja sincera e revele aqui também, o fato de que houve antes disso, pelo menos dois suicídios misteriosos de jovens peões da nossa estância, cuja culpa involuntária, por assim dizer, me foi veladamente imputada. Mas voltemos ao caso que devo aqui narrar e que já foi citado, nominalmente mas en passant , numa cena do meu julgamento, no romance “A Herança”. Refiro-me o caso do jovem peão Martim, filho do velho Alípio Galdiano.
Martim Galdiano, era um belo jovem peão, muito bem dotado para a profissão, cavalgando e jogando o laço como poucos e também a boleadeira, prática em vias de extinção pelo menos na nossa estância, dedicada mais à vinha e ao mate do que à boiada ou o charque, como antigamente, antes do meu avô. Martim era também um excelente dançarino, nas festas da peonada, e se exibia no fandango, na dança da lança, na dos punhais, e na das boleadeiras, com um virtuosismo entusiasmante, com um taconeo aliciador.
Sendo um verdadeiro sucesso entre as gurias, essa flor viril da peonada causava freqüentemente ciúmes perigosos nos outros jovens, e tinha às vezes que se bater à faca ou mesmo aos murros com alguns deles, por paixão despertada nalguma chinoca. Mas a desgraça realmente começara já nos seus quinze ou dezesseis anos, quando o jovem Martim, da mesma idade que eu, me viu mais de perto numa festa de galpão, durante o São João. O jovem perdeu a sua paz. A paixão que despertei, nele, ao dançar candidamente, sorrindo muito, principalmente durante a dança dos lenços, e a do pezinho, iria condicionar a sua vida daí por diante. Quanto a mim, reprimi a consciência desse fato até muito recentemente, como se não me dissesse respeito, por ser involuntário e por eu não ter nunca dado corda ou me aproximado do guri. Eu estava demasiado centrada em mim mesma e no meu irmão Rôdo. Além disso havia em mim, confesso, uma espécie de consciência aristocrática, de minha condição de filha de estancieiro de segunda geração.
Embora eu ainda seja jovem, recentemente começou a vir do fundo da memória essas imagens produzindo um certo desconforto, uma certa dor mesmo. Serei culpada de alguma forma pelo suicídio recente de Martim há tantos anos longe de seu pai e de nós, numa outra estância longe daqui? O ódio do velho Galdiano, que no entanto permaneceu entre nós, na estância, mesmo depois de aposentado (fato até certo ponto misterioso) e que me foi revelado no seu depoimento em meu julgamento, corrobora essa hipótese que poderia ser, talvez, pretensiosa.
Estou contando tudo isso aqui, neste momento, por uma razão perturbadora: acabo de receber esta manhã, uma carta lacrada, cujo nome do remetente me fez estremecer, e que não tive coragem de abrir até agora. O medo que tenho dela é maior que minha curiosidade. Faz dois meses que Martim se enforcou com seu laço de couro. Faz vinte anos que o velho Galdiano me odeia, e apenas dois que me revelou isso. Confesso que começo a ter, finalmente, um certo medo da vida...
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29/10/2005

domingo, 23 de dezembro de 2007

Sons de cristal (de Alma Welt- republicação)

Republico aqui, por achá-la oportuna, esta crônica de Natal de minha saudosa irmã e grande poetisa. (Lucia Welt)



SONS DE CRISTAL
(dos Contos Secretos de Alma Welt)

Volto a lembrar-me, com saudade, das nossas festas de Natal e fim de ano, na estância, durante a minha infância. Dias gloriosos, aqueles, em que me levantava cedo, em manhãs esplendorosas de verão, quase gritando de alegria por existir, e me sentir... tão feliz! As festas, para mim, começavam já nos preparativos, na cozinha, e na sala preparada, sobretudo com a montagem do nosso grande pinheiro de Natal. Matilde era a grande festeira, responsável pelo maravilhoso peru assado, guarnições, saladas e doces. O Vati cuidava da escolha dos vinhos, de nossa própria produção. A Mutti gerenciava tudo, a começar pela decoração da sala e a preparação condigna da grande mesa que nos congregaria a todos. Solange e Lúcia, minhas irmãs, as ajudavam, enquanto eu e Rôdo nos divertíamos em observar e bater palmas, ou simplesmente colher flores e fruir o clima adorável de preparativos natalinos.
Mas recordo particularmente o Natal dos meus treze anos, quando Rôdo, numa grande inquietação de sua libido de pré-adolescente, resolveu criar um pretexto para que eu o visitasse em seu quartinho do sótão, na ante-véspera do Natal, à meia-noite, quando todos estivessem dormindo.
Ali estava eu, como tantas vezes, naquele aconchegante ambiente de quarto de menino, que me fascinava com sua bagunça viril, onde seus gostos se mostravam todos: carrinhos, aeromodelos, miniaturas de motos e barcos, fotos e posters de montanhas e praias, algumas fotos pampianas típicas, de boiadeiros laçando ou lançando a boleadeira em pleno galope, cavalos maravilhosos, tudo o que um menino aventureiro amava, e... uma foto minha, linda, a minha melhor foto, que me enternecia por estar ali, entre as suas coisas amadas.Eu o abracei de uma maneira mais comovida, que o normal, embora sabendo que Rôdo não gostava de sentimentalismos. Mas naquela noite, em especial, por alguma razão eu queria chorar de felicidade de tê-lo como irmão, eu, que não me identificava em nada com minhas irmãs, e nem tinha certeza de amá-las. Puxei-o sobre mim, instintivamente, como uma pequena amante, mas estávamos sonolentos e adormecemos assim, vestidos e abraçados, sonhando com nós mesmos, abraçados, sonhando...
Acordamos sobressaltados pela voz aguda e agressiva de Solange. A megerinha gorda, diante de nós, de mãos na cintura, nos fuzilava com os olhos:
—Ah! Seus safados. Já agarrados de novo! Mamãe vai saber disso! Vocês vão ficar sem peru no Natal e sem sobremesa! Nem vão sentar à mesa, vocês vão ver!
Fiquei envergonhada por ela, não por mim. Pela mesquinharia de minha irmã que insistia em atormentar a minha vida, conspirando contra a minha felicidade, que, afinal, para mim, estava ali mesmo, junto de meu irmão. Retruquei, estendendo meus braços para ela:
—Solange, irmãzinha ciumenta! Queres abraçar-me também? Vem, vem Sol, que eu te farei feliz!
Solange ficou rubra de confusão e cólera, mas retirou-se correndo dali. Eu a desarmara. Olhei para Rôdo e ele rolava de rir, ofegante. Conseguiu afinal, dizer:
—Alma, tu tens cada uma! És sempre inesperada. Tu, abraçando a Sol! Não posso imaginar!
–Bem... ela não deixaria. Eu a abraçaria e até a beijaria se com isso eu a conquistasse, e ela parasse de nos perseguir. Por falar nisso, será que já estamos sem peru e sobremesa?
Rimos mais uma vez juntos, e eu estava tão feliz ali, com Rôdo, romanticamente nos braços do meu irmãozinho, que comecei a ouvir os sons da noite de Natal, o ruído dos cristais, das taças de vinho, e dos talheres de prata, das risadas felizes dos familiares que eu amava tanto, que não excluiria Solange, que via sorrindo para mim, gordinha e... até mesmo simpática. Eu não precisava nem mesmo da noite de Natal. Eu estava tão plena e feliz, que ouvia os seus sons de cristal, e não precisava mais que a véspera chegasse. Meu Natal era ali mesmo, naquele momento, presente para sempre, sentindo com meu pequeno seio nascente, as batidas do coração amado de meu irmão.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

A Preceptora (de Alma Welt)

A Preceptora

(Dos Contos Secretos, de Alma Welt)


Preciso contar a vocês, meus leitores, um episódio de minha adolescência, na estância. Tenho hesitado muito em contar este episódio, por motivos que eu mesma não compreendo bem, já que venho revelando nestas narrativas “secretas”, o mais recôndito de minha vida... e de minha alma, de uma maneira, espero, sincera, e não despudorada.

Eu tinha quinze anos, e minha beleza estava no auge, a tal ponto que a mim mesma me espantava... e comovia, como artista nata, que sempre fui. Por esse motivo, eu era homenageada por todos de minha casa, a exceção de Solange, claro, minha irmã mais velha, e talvez de minha própria mãe, que via esse fato, ao que parece, com temor e desconfiança. O certo é que minha mãe, percebendo o teor particularmente sensual da minha beleza juvenil, resolveu tirar-me da escola, pois descobriu que eu corria perigo diante de mim mesma e dos alunos adolescentes, que me assediavam. Resolveu então, que eu passaria a receber aulas particulares, na grande sala da nossa estância, de uma professora que ela contratou e que chamava, de uma maneira um tanto antiga, de “preceptora”.

Essa moça, de uns trinta e poucos anos, morena, magra, de rosto triste, sério, de cabelos presos e roupa sóbria como uma freira, inspiraria confiança em minha mãe. Começaram as aulas, tudo corria normalmente, e dona Luciana era uma excelente professora de diversas matérias, como matemática, geometria, física, etc. Quanto ao português e história, parecia-me que eu já sabia mais do que ela.

O fato é que dona Luciana, cujo semblante fechado, neutro, a princípio não atraía ninguém, foi-se abrindo, ao longo das nossas aulas, e passou a sorrir e a demonstrar um tom crescente de afetividade, até atingir aquilo que chamamos carinho. Ah! Vocês já podem prever o que aconteceu? Claro, vocês já me conhecem. Sim, eu sem querer, ou querendo sem saber, seduzia gradativamente a minha preceptora.

O primeiro sintoma do meu sucesso, foi o pedido que Luciana fez à minha mãe, para transferirmos as aulas para a mansarda do casarão, onde teríamos mais silêncio e concentração para as aulas, já que o salão era constantemente invadido por empregadas, irmãos e empregados da vinha procurando por meu pai, trazendo-lhe problemas, o que dispersava a nossa atenção.

Montamos a nossa sala de aula no sótão, aposento acolhedor, intimista, e com minúscula janela. Eu já percebia o timbre sub-reptício dessas manobras, mas, como sempre, sendo da minha mais profunda natureza aliar candura à lucidez, ironia à inocência, deixava-me levar por suas iniciativas, com minha passividade de sempre. Luciana estava cada vez mais apaixonada por mim, essa era a verdade visível a olho nu, pelo menos para mim. Essa moça conseguiria disfarçar isso por muito tempo? Eu me perguntava.

Uma tarde, Luciana, enquanto eu escrevia, fingindo-me concentrada, tamborilava os dedos levemente na mesa, denunciando uma certa tensão. Seu olhar fixo sobre mim, começou a parecer com o de uma ave rapinante, e... ela levantou-se afinal, caminhando decididamente em minha direção. Ergui os olhos, assustada realmente, como se ela fosse bater-me, quando agarrou-me pelos ombros, ergueu-me da carteira, e olhando-me fixamente nos olhos, exclamou:

–Não agüento mais, Alma, eu te amo, guria! Eu te amo! Estou apaixonada por ti!

E beijou-me súbita e ardentemente os lábios. Longamente. Eu permaneci passivamente, de pé, tendo meus lábios sugados, mordidos, por essa boca que percebi bela, também, surpreendentemente doce. Ela não tardou a enfiar sua língua em minha boca, para colher minha saliva, sugar o meu hálito, com uma sede infinita, antiga, que agora finalmente saciava.

Em seguida, empurrou-me para o pequeno catre que havia ali, atrás de um biombo chinês, esdrúxulo, herança da avó Morgado. Aquilo sempre estivera ali, e eu já o conhecia... com Rôdo. Ah! Se minha mãe soubesse! Luciana praticamente jogou-me sobre o catre e começou a despir-me, murmurando:

–“Alma, Alminha, deixa-me ver-te. Deixa-me ver a tua beleza. Essa pele, branca como um lírio. Quero ver-te uma vez, e depois posso até .. morrer. Mostra-me, Alma, mostra-me teu corpo!” – ela começou, imprudentemente, a arrebentar botões, a despojar-me de maneira afoita, do meu vestido. Deixei-a fazer o que quis. Logo eu estava nua, deitada à sua frente, largada, a olhá-la com um olhar que eu mesma gostaria de ver. Mais tarde ela me diria que os meus olhos verdes pareciam os de uma gata, nada inocentes, perigosos, e que brilhavam demais na semi-penumbra daquele canto do sótão. Ela então, arrancou seu próprio vestido, expondo a sua magreza tocante, seu corpo carente, sua fome de amor e carinho visível em seus ossos, em suas costelas, seus joelhos ossudos, suas mãos magras e nervosas, que pareciam renascer para as carícias. Essa mulher desabrochava diante dos meus olhos, suas formas agudas, quebradas, se abrandavam, e eu pude imaginá-la mais roliça, mais cheia e mais feliz. Deixei a sua boca e suas mãos ávidas percorrerem-me toda. Deixei que sua saliva me banhasse, como uma vaca à sua bezerra. Ela me banharia inteira, colocando-me até de bruço, para lamber-me por trás...e atrás. Deixei-a fazer tudo o que quis, gemendo... as duas.

Eu sentia que nutria seu corpo maltratado tanto tempo por ela mesma, ou pelo mundo. Eu sentia, por instinto, que podia assim, com minha volúpia, meu prazer, minha passividade ativa, transformar essa lagarta numa borboleta deslumbrante. Eu sentia o meu poder de jovem ninfa. E jamais me esqueceria... ou me arrependeria desses momentos.
Acariciei-a, então, mais ativamente, seu rosto, seus pequenos seios tardios, virgens, que tremiam, e que eu faria desabrochar.

Ela, a minha preceptora, chorava diante mim, como uma aluna, comovida e grata... para sempre.

Alma Welt

21/05/2006

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

O Amigo de Modigliani (crônica-fantasia de Alma Welt)

O AMIGO DE MODIGLIANI

Dirijo-me à Galeria, nervosa, na minha primeira exposição. Para a minha agradável surpresa, encontro-a bastante concorrida, os carros sendo manobrados com dificuldade, diante da entrada, cuja vitrine ostenta uma das minhas telas. Mulheres e homens elegantes, gente bonita e os indefectíveis ratos de vernissage que vêm para beber, ou aparecer. Tudo comme il faut.
Nos últimos meses trabalhei como louca para chegar aqui. Consegui interessar à velha marchand, experiente, pelo meu próprio trabalho, acredito. Ela aposta no meu talento e se considera minha “descobridora”. Ofereceu-me esta exposição individual, assim que examinou os desenhos que lhe levei numa pasta. Fez me elogios inusuais, de saída. Levou-me à sua casa para mostrar-me a sua coleção pessoal, fantástica. Ofereceu-me jantares, adotou-me. Percebi que a uma certa altura fazia gosto em deixar-me a sós com seu filho. Mas esse era nitidamente feminino, e só ela não percebia. Não que isso fosse um impedimento, tornou-se um amigo querido.
Agora estou aqui, excitada e feliz com tanto afluxo de gente que pára diante dos meus quadros com ares entendedores e que aproxima-se para me cumprimentar.
O longo que ostento foi me dado pela marchand e sinto-me bela com ele. Não deixei que produzissem muito meu rosto, porque não gosto de parecer uma modelo, sou uma artista de cara lavada, sem pintura. Ainda bem que não destoou do vestido. Os casais que se aproximam para os cumprimentos aproveitam para elogiar-me fisicamente, alguns gaviões também, mas esses em geral me incomodam.
Gosto de falar da minha pintura como todo bom artista, e procuro não deixar-me lisonjear em falso por bajuladores bem ou mal intencionados. Prefiro conversar com outros artistas, sobretudo os mais velhos.
De repente, vejo entrar na galeria um grupo espantoso: várias senhoras e senhores, velhos, velhíssimos, mas elegantérrimos, nitidamente europeus. Elas, com grandes chapéus e vestidos de griffe, umas fumando longas piteiras, outras abanando-se com os catálogos. Os homens, velhos imponentes, com ternos impecáveis conversam com elas diante das minhas telas, com nítido conhecimento. Falam francês, alguns com sotaques estranhos. A uma das mulheres ouvi chamarem de Marússia (isto me soou como um nome russo). Mas dentre todos destacava-se um senhor alto, magro, muito ereto para a sua idade, com uma cabeça de velha águia, um nariz espantoso, aquilino, e vasta cabeleira branca de maestro ou coisa parecida. Uma mistura de Karajan com Leo Bernstein. Maravilhosa figura. Senti-me atraída por ele ia me aproximar, mas ele tomou a dianteira e puxando a tal russa pela mão abordou-me no meio da galeria.
— Oh! Aí está "la jeune fille prodige", disse ele galantemente, estendendo-me a mão. — Marussia, vê como o talento se alia à beleza. Lembra-se da nossa Marie Laurencin? Ah! Eu pensava que já não se faziam musas pintoras como antigamente. "Je suis enchanté" (e beijou-me a mão).
Apesar da galanteria bem francesa, senti uma espécie de imponência nele. Dava-me a impressão de um velho Druida, a quem faltava somente o camisolão. Percebi que homens como esse mexem sempre um caldeirão mágico invisível, aonde preparam suas poções. Por isso sempre senti que o maestro Karajan parecia lidar com esse caldeirão, com aquela economia de gestos de quem está remexendo a sopa de onde brotava sua música. Mas voltemos a Eduard, esse era o seu nome.
Marússia e Eduard, do grupo de velhos foram os mais entusiastas da minha modesta pessoa. Eduard fez comparações fascinantes da minha pintura com a de membros da École de Paris que ele parecia conhecer com notável intimidade. Marússia também parecia conhecer tudo e todos. Eu estava fascinada pelos dois, mas principalmente pelo velho águia.
Lá pelas onze horas, anunciaram sua partida, mas convidando-me com ênfase para que me juntasse ao grupo deles a partir da meia-noite para uma festa em um apartamento próximo, na mesma avenida da galeria.
— Fiquei encantada: poderia ir à pé, desde que me desvencilhasse de alguns novos admiradores que me ofereciam carona, disputando-me para o fim da festa ou começo, como pensavam, certamente.
— Pedi licença para ir ao toalete e fugi pelos fundos da galeria, por um beco que já conhecia, saindo assim à francesa, já que a noite prometia ser franca e joyeuse.
Entrei no prédio indicado, chiquíssimo, cujo porteiro uniformizado parecia já esperar-me, dizendo:
— Ah, a senhorita é a pintora. Pode subir. Estão lhe esperando.
Subi, apertei a campanhia, a porta se abriu e de repente vi-me como num sonho ou delírio, em plenos anos trinta, no entre guerras, em Paris, no meio de espectros antiquíssimos que se moviam com elegância e coqueterie. Parecia uma verdadeira alucinação. Entre pesadas cortinas e poltronas estofadas, um grande piano de cauda pilotado por uma doce abantesma que dedilhava “Les feuilles mortes”, cantando com voz aguda, acompanhada por todos os presentes. Fantasmas velhíssimos, alegres e nostálgicos ao mesmo tempo. Chapéus, boás, piteiras, taças, champagne e mots d’esprit em abundância. Eduard recebeu-me com especial gentileza, juntamente com Marússia e puseram a fazer comentários lisonjeiros sobre a minha exposição e a compará-la com outras de Paris, daqueles anos. Tinham tantas memórias maravilhosas! Meus olhos se encheram de lágrimas quando Marússia me descreveu Nijinsky jovem, que ela conheceu ao vivo dançando “Le spectre de la rose”com Karsavina, em 1911, no Opéra de Monte-Carlo. Meus olhos se arregalaram, para seu deleite, ao ouvir a descrição da trajetória ascendente de sua saída de cena pela janela azul do cenário, ao final da dança. Descreveu-me, como ele caía exausto sobre colchões na coxia, com o coração aos saltos, dores lanscinantes, segurando o peito com as duas mãos, debatendo-se em espasmos enquanto lhe jogavam água fria, fumegante ao contato de seu corpo abrasado, martirizado. Depois recompunha-se, recuperava a “leveza” e voltava para os cumprimentos ao público que o ovacionava delirante. Comovida, para disfarçar, voltei-me então para Eduard, elogiando-lhe a postura elegante, sem barriga, notável na sua idade. Sem sorrir, ele abriu a camisa em plena festa dizendo:
— "Não se iluda, menina, não se iluda!"- e mostrou-me um terrível colete ortopédico, como um espartilho de barbatanas de aço, cheios de fivelas e cadarços, belo como um instrumento de tortura. A seguir, serviu-nos o champanhe e fez um brinde dizendo com o ar enfastiado:
“— La vie est belle, les femmes sont chères et les enfants faciles a faire!...”
Deixei escapar uma gargalhada.
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Acordo meio ressacada no meu ateliê. Não me lembro bem como cheguei aqui. O telefone toca dentro da minha cabeça. Resmungando, atendo e é a voz característica de Eduard com seu sotaque francês:
— Olá, jeune fille. Comment-allez vous? Quero passar aí para levar-lhe uma coisa. Quando pode me receber? Dê-me sua direction!..
Respondo-lhe que me perdoe, que estou sem condições, mas que me dê seu telefone que ligo assim que melhorar.
Depois de horas e muito suco de laranja, quando começo a sorrir para os acontecimentos da noite em minha memória, giro pelo ateliê com os braços abertos na valsa clássica do espectro da rosa. Meu balé ainda está fresco em meu corpo, pois deixei-o há poucos anos para dedicar-me à pintura.
Saboreio agora a minha pequena glória, e quando o interfone toca, anunciando-me uma corbeille de flores. Recebo-a de peignoir, pelo porteiro que me olha indiscreto da cabeça aos pés. Retiro o cartão do envelope:
“Para a nova musa-pintora, Eduard.
"Antes que as flores percam o viço...”

Sorrio feliz... querido Eduard, meu novo amigo, um tanto amargo, mas que sensibilidade!
Preparo-me para pintar. Dizem que o pintor deve sempre pintar no dia seguinte à vernissage, para não parar nunca. Lembro-me de um outro velho sábio que me perguntou um dia:
— Alma, você pintou hoje? Pensei e disse: —Não, hoje eu não pintei. E ele: — O quadro que você não pintou hoje, você não pintará jamais. Só existe o hoje, aprenda isso.
Ao anoitecer recebo a visita anunciada de Eduard. Veio sozinho, é um velho solteirão. Marússia não é sua mulher. Nem sequer sua amante. Aliás, ele nem gosta muito dela como amiga. Eduard, ainda bem, corteja-me intelectualmente, se posso dizer assim. Esse é seu feitio. Ele só se atrai intelectualmente, e por artistas.
Põe-se a contar casos interessantes de Paris, de sua amizade com os pintores.
Conta-me para o meu espanto que foi amigo de Modigliani, que beberam juntos. Ele sobriamente, o outro... Quantas vezes ele o carregou para o ateliê e o entregou nos braços de Jeanne Hébuterne. Descrevia a beleza do rosto de Amadeo, apesar das bebedeiras. Jeanne o olhava com antipatia, como se ele, Eduard, levasse o seu marido para o mau caminho. Ele, então, a odiava.
Tudo isso me parecia insólito. Eduard era desmistificador numa medida calculada. Assim, o que sobrava sempre era um mito mais duradouro na memória. Percebi que a nossa amizade duraria se eu tivesse muita tolerância e não julgasse nunca moralmente o velho egoísta que ele era.
Ele era o anti-burguês "par excellence". E a sua escolha da minha pessoa, lisonjeava-me como artista verdadeira. Ele não me via como uma “burguesinha talentosa”, mas como alguém que dava continuidade às suas memórias da boêmia de Paris, no seu exílio provinciano. Tirava da manga (ou do caldeirão), como um mágico, casos e mais casos, sempre oportunos e engraçados, de seus amigos pintores, poetas e músicos, de sua juventude parisiense. Eu ria muito, deliciada.
Contou-me também que fora ao café onde, junto com Chain Soutine, bebia com Modigliani, numa mesinha de calçada, no dia seguinte à morte do pintor. Encontrara o toldo rasgado, um cordão de isolamento e a mesa quebrada encostada na parede. Jeanne havia se atirado, de manhã, de uns andares acima, da janela do ateliê deles, atravessando o toldo e estatelando-se sobre a mesa em que o marido costumava beber.
Nunca mais Eduard sentou-se naquele café. Eu ouvia essas histórias, creio que com um olhar sonhador, transportando-me àquele tempo, àquela cidade da minha fantasia. Eduard sabia disso. O velho mago era um sedutor de almas permanente.
Contava-me até mesmo uns casos inéditos de Picasso. Ele o conhecia com alguma cerimônia, não eram próximos. Picasso era um tremendo monstro sagrado até para os seus amigos mais íntimos. Um dia, num café, Picasso, diante de um drink que ele não tocava, e cercado de uma corte de amigos e conhecidos entre os quais Eduard, foi perguntado por uma senhora meio simplória:
— Pablo, o que você acha do impressionismo?
E Picasso respondeu:
— O impressionismo? Ah sim, é muito bom quando se precisa saber se devemos levar o guarda-chuva!
Gargalhada geral, e no dia seguinte a piada corria Paris inteira, pelo menos nos “meios”.

Eduard agora vinha quase todos os dias ao meu ateliê. Tive que pôr um freio, ou não trabalharia mais. Mas nossa amizade se consolidou, quando um dia Eduard apresentou-me sua irmã Margot. Ela era mulher do grande pintor Sanson Flexor. Sobre eles contou-me o seguinte: Margot e Sanson fugiam através da França ocupada. Tinham que atravessar uma fronteira vigiada pelos nazistas para sair do país. Tentaram atravessar à noite. Um holofote, um apito e foram pegos. Foram levados a um posto policial diante de um major alemão, que lhes disse que seriam fuzilados imediatamente. Flexor era judeu, da Bessarábia, que passara a infância em Berlim. Olhando bem o Major reconheceu um antigo colega de escola. Disse-lhe:
— Major, não está me reconhecendo? Sou eu, Sanson, seu colega de ginásio.
O Major olhou-o bem e disse: Ah! Sanson! Sim, é você, que vivia desenhando nos cadernos durante as aulas, um caso perdido, hein Sanson? O que você se tornou afinal?
— Major, eu me tornei um pintor, um artista, profissional. Eu pinto quadros, Major.
— Pintor, hein, Sanson. Muito bem. Então, vou lhe dar uma chance. Você vai desenhar o meu retrato já, aqui. Se eu gostar do retrato, se achar que está bom, que ele parece comigo, deixo-os passar, senão...
Pediu ao ordenança que lhe trouxesse um papel e um lápis e os pôs diante de Flexor, sobre a mesa. O pintor começou imediatamente a desenhar olhando intermitentemente o modelo. Logo depôs o lápis e entregou o papel ao Major. Este olhou, olhou, em silêncio, num terrível suspense. Então estalou os dedos e chamou o ordenança , passou-lhe o papel, perguntando-lhe:
—Então, cabo, o que você acha? Parece-se comigo?
—Sim, Major, parece sim, está muito bom. Tal e qual.
—Sanson, disse então o Major. Podem passar!
Anos se passaram. Presenteei quadros ao Eduard, mas defendia-me bastante de suas atitudes às vezes invasivas. Quanto à minha pintura, ele nada mais dizia, mas sempre isolava detalhes, enquadrando-os com as duas mãos sobre a tela no cavalete, em silêncio, olhando-me sugestivamente, o que, então, me irritava.
Ele começou a entrar em declínio. Suas dores físicas aumentaram, sua ironia também.
Um dia fez um comentário perspicaz, mas cruel sobre o retrato que eu pintava de uma amiga. A moça, presente, fechou-lhe a cara e encerrou-se chorando no quarto. Eduard, exasperado, implorou-me que interviesse, para que ela o desculpasse, dizendo:
—Se sua amiga não me perdoar, eu vou odiá-la.
Tinha a sinceridade de um "enfant-terrible".

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Afinal, chegou o tempo das Dores e dos Desencantos. Eu estaria ao seu lado no final, coisa que ele não pedia, mas esperava.
Ao lado de sua cama eu meditava sobre o significado de nosso encontro nesta vida. Eu, uma simples moça brasileira, pintora, jovem, e o amigo de Modigliani, que se dera ao luxo de odiar Jeanne Hébuterne, hoje uma musa histórica. Acabei encontrando estranhos signos nisso tudo. Mas prefiro calá-los em meu coração para que se transformem no "pure morceau de peinture" que o velho mago em silêncio reclamava.

Alma Welt

21/12/2001

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Nota da editora:

Esta inusitada e encantadora "crônica-fantasia", como Alma a designou, foi recém-descoberta por mim na sua arca no nosso sótão, aqui no casarão. Trata-se mesmo de uma fantasia, malgrado o seu teor realista e verossímil, pois minha irmã, que morreu com apenas 35 anos em Janeiro deste ano, não tinha idade para ter sido a amiga jovem de um contemporâneo e amigo do grande pintor Modigliani (1884-1920). (Lucia Welt)

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007



Capa do livro CONTOS DA ALMA, de Alma Welt- O desenho representa uma cena do mito de Eros e Psiqué na sua versão clássica, a do livro do escritor latino do II século, Lucius Apuleius, "Metamorfoses ou o Asno de Ouro" (Cupido e Psiqué). Note-se que, no desenho de Guilherme, a Psiqué é um retrato fiel da própria Alma Welt. O livro Contos da Alma encontra-se à venda em diversas livrarias de São Paulo, como a Livraria Cultura e Livraria da Vila, por exemplo, e o preço de capa é R$ 32,00.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Alma nostálgica, ou Carta da "Mentira Vital" (de Alma Welt)

Andrea querida
Minha morena, estás escorrendo, não é? Guarda um pouco desse caldinho para mim. Já imaginaste quantos hormônios e feromônios contém esse precioso fluido? Degustá-lo, bebê-lo deve reforçar a nossa feminilidade gloriosa. Por falar nisso, hoje não teve terapia, e passeei horas a cavalo com minha doutora Jensen, pelas pradarias. Fomos muito longe, e na nossa intimidade também. La Jensen é o máximo, que mulher incrível! Ela já esteve até na África, trabalhando, e sua experiência internacional de vida é algo que daria um filme maravilhoso.
Ela faz tudo para pôr-me para cima, o que no meu caso não é simples, pois ela sabe que não sou um caso de baixa auto-estima, mas tenho uma síndrome bem mais sutil e complicada. Ela diz que eu, como artista me auto-glorifico, chego mesmo a me auto-mitificar, e que isso é comum aos bons artistas, e que não é aí que reside portanto o meu “pathos” que ela denominou lisongeiramente de “weltiano”, universalizando o meu caso. Ela citou, enquanto cavalgamos a passo, a teoria da “Mentira Vital” de Otto Rank, segundo a qual, as crianças por volta dos quatro anos, ao tomar contato com as próprias fezes de uma maneira diferente, como algo decomposto que lhes sai de dentro, têm uma súbita consciência da própria morte, que lhes seria fatal pela angústia mortal se assomasse totalmente ao consciente. Então, segundo Rank, mecanismos naturais de defesa interpõem uma espécie de comporta entre inconsciente e consciente, estancando essa consciência fatal. Daí pra diante vivemos como se a morte não fosse nunca a nossa, e sim algo que só ocorre no outro. A isso ele chamou de “mentira vital”, que nos permite viver. Mas segundo ele, o Artista sofre de um defeito desse mecanismo de defeza, uma espécie de rachadura na comporta, por onde emanam eflúvios da consciência de morte, produzindo uma angústia criativa. Entretanto, essa rachadura tende a se alargar, como uma fenda numa comporta de represa. “Si non è vero...” Ai! Andreazinha, paga-se um alto preço por se ser artista. Eu às vezes queria ser apenas mulher, ou melhor, uma guriazinha de cabeça ôca, casadinha e com filhos, como minha mãe queria. Mas agora é tarde. Ao pôr-do-sol, no meu pampeiro, ao lado da doutora, eu soltei um gemido, e as lágrimas começaram a descer. Uma saudade, Andréa, uma nostalgia de tudo, do que vivi e do que não vivi! E queria me dissolver naquele poente como nos meus amores passados, presentes e futuros. E em ti, guria, que só conheço por dentro, e tão pouco, mas que és tão terna e compreensiva com esta doida Alma inquieta.
Então, a doutora apeou, estendeu-me os braços e disse: “Apeie, Alma, sentemos nesta relva e vamos esperar as estrelas surgirem. Elas relativizam tudo com a sua grandeza, com a sua distância e impassibilidade. Com sua eternidade, talvez. Vamos simplesmente olhá-las, como mãe e filha, abraçadas, minha querida”. Assim ficamos, eu chorando baixinho abraçada à minha doutora sábia, que chegou tarde demais para ser minha guru, e que parece querer somente consolar-me de uma dor perante a qual ela se sabe impotente. Uma mãe terna e velha, que não pode mais proteger a sua filha do mundo, da vida, da dor da vida.
Ao voltarmos para casa já anoitecida, Rodo nos esperava na varanda, sentado na cadeira de balanço, tomando um chimarrão, com música de piano, Chopin, no aparelho, o que só aumentou minha nostalgia. Fiz um esforço e pus música de fandango, e puxei meu irmãozinho para dançarmos juntos para a doutora Jensen que deu boas gargalhadas. Rimos muito, Andréa. E eu senti que por hoje me salvei. Sobrevivi. Quero minhas crianças, Andrea. Não podem me tirar minhas crianças. Também sou uma, não podem me deixar sozinha...

Tua Alma que ama e sofre
24/07/2006
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Comentários


O poeta Cláudio Bento escreveu:


"Assino embaixo, Alma Welt é tudo isto e muito mais. Ele fazia uma literatura sem precedentes na história da poesia brasileira, na história do romance brasileiro, do conto brasileiro. O Brasil precisa banhar-se na luz e nas letras desta mulher talentosa e bela."

Solange Lima escreveu:

"Eu soube que Alma escreveu a série de "Cartas à Andrea" em e.mails. As duas amantes nunca se viram, nem ouviram sequer as suas vozes: nunca se telefonaram. Trata-se de um um romance digital- erótico- platônico, típico da nossa época virtual. A diferença está em que produziu, pelo talento e ardência da poetisa Alma, um extraordinário e belíssimo romance epistolar que teminou em tragédia. Sei disso porque conheci a Andrea e tive esse volume (alentado) nas mãos. Trata-se da coisa mais comovente que li nas últimas décadas. Insisti com a Andrea para o que o puiblique. Há problemas, pois há muitos momentos demasiadamente íntimos, e de um exacerbado erotismo, nunca visto na literatura feminina. Mas a meu ver por isso mesmo seria revolucionário..."

eliana mattos escreveu:


"Eis uma carta comovedora, pungente, típica do universo riquíssimo da poetisa Alma. Ela contém mesmo o embrião de sua morte, fruto da doença que cresceria nela: sua angústia da consciência profunda da própria morte, que vitimou tantos artistas através da História. Alma nos comove com seu talento, sua beleza interior e seu drama. Ela é sem sem dúvida, a maior poetisa surgida no final do século XX em língua portuguesa."