quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

A Preceptora (de Alma Welt)

A Preceptora

(Dos Contos Secretos, de Alma Welt)


Preciso contar a vocês, meus leitores, um episódio de minha adolescência, na estância. Tenho hesitado muito em contar este episódio, por motivos que eu mesma não compreendo bem, já que venho revelando nestas narrativas “secretas”, o mais recôndito de minha vida... e de minha alma, de uma maneira, espero, sincera, e não despudorada.

Eu tinha quinze anos, e minha beleza estava no auge, a tal ponto que a mim mesma me espantava... e comovia, como artista nata, que sempre fui. Por esse motivo, eu era homenageada por todos de minha casa, a exceção de Solange, claro, minha irmã mais velha, e talvez de minha própria mãe, que via esse fato, ao que parece, com temor e desconfiança. O certo é que minha mãe, percebendo o teor particularmente sensual da minha beleza juvenil, resolveu tirar-me da escola, pois descobriu que eu corria perigo diante de mim mesma e dos alunos adolescentes, que me assediavam. Resolveu então, que eu passaria a receber aulas particulares, na grande sala da nossa estância, de uma professora que ela contratou e que chamava, de uma maneira um tanto antiga, de “preceptora”.

Essa moça, de uns trinta e poucos anos, morena, magra, de rosto triste, sério, de cabelos presos e roupa sóbria como uma freira, inspiraria confiança em minha mãe. Começaram as aulas, tudo corria normalmente, e dona Luciana era uma excelente professora de diversas matérias, como matemática, geometria, física, etc. Quanto ao português e história, parecia-me que eu já sabia mais do que ela.

O fato é que dona Luciana, cujo semblante fechado, neutro, a princípio não atraía ninguém, foi-se abrindo, ao longo das nossas aulas, e passou a sorrir e a demonstrar um tom crescente de afetividade, até atingir aquilo que chamamos carinho. Ah! Vocês já podem prever o que aconteceu? Claro, vocês já me conhecem. Sim, eu sem querer, ou querendo sem saber, seduzia gradativamente a minha preceptora.

O primeiro sintoma do meu sucesso, foi o pedido que Luciana fez à minha mãe, para transferirmos as aulas para a mansarda do casarão, onde teríamos mais silêncio e concentração para as aulas, já que o salão era constantemente invadido por empregadas, irmãos e empregados da vinha procurando por meu pai, trazendo-lhe problemas, o que dispersava a nossa atenção.

Montamos a nossa sala de aula no sótão, aposento acolhedor, intimista, e com minúscula janela. Eu já percebia o timbre sub-reptício dessas manobras, mas, como sempre, sendo da minha mais profunda natureza aliar candura à lucidez, ironia à inocência, deixava-me levar por suas iniciativas, com minha passividade de sempre. Luciana estava cada vez mais apaixonada por mim, essa era a verdade visível a olho nu, pelo menos para mim. Essa moça conseguiria disfarçar isso por muito tempo? Eu me perguntava.

Uma tarde, Luciana, enquanto eu escrevia, fingindo-me concentrada, tamborilava os dedos levemente na mesa, denunciando uma certa tensão. Seu olhar fixo sobre mim, começou a parecer com o de uma ave rapinante, e... ela levantou-se afinal, caminhando decididamente em minha direção. Ergui os olhos, assustada realmente, como se ela fosse bater-me, quando agarrou-me pelos ombros, ergueu-me da carteira, e olhando-me fixamente nos olhos, exclamou:

–Não agüento mais, Alma, eu te amo, guria! Eu te amo! Estou apaixonada por ti!

E beijou-me súbita e ardentemente os lábios. Longamente. Eu permaneci passivamente, de pé, tendo meus lábios sugados, mordidos, por essa boca que percebi bela, também, surpreendentemente doce. Ela não tardou a enfiar sua língua em minha boca, para colher minha saliva, sugar o meu hálito, com uma sede infinita, antiga, que agora finalmente saciava.

Em seguida, empurrou-me para o pequeno catre que havia ali, atrás de um biombo chinês, esdrúxulo, herança da avó Morgado. Aquilo sempre estivera ali, e eu já o conhecia... com Rôdo. Ah! Se minha mãe soubesse! Luciana praticamente jogou-me sobre o catre e começou a despir-me, murmurando:

–“Alma, Alminha, deixa-me ver-te. Deixa-me ver a tua beleza. Essa pele, branca como um lírio. Quero ver-te uma vez, e depois posso até .. morrer. Mostra-me, Alma, mostra-me teu corpo!” – ela começou, imprudentemente, a arrebentar botões, a despojar-me de maneira afoita, do meu vestido. Deixei-a fazer o que quis. Logo eu estava nua, deitada à sua frente, largada, a olhá-la com um olhar que eu mesma gostaria de ver. Mais tarde ela me diria que os meus olhos verdes pareciam os de uma gata, nada inocentes, perigosos, e que brilhavam demais na semi-penumbra daquele canto do sótão. Ela então, arrancou seu próprio vestido, expondo a sua magreza tocante, seu corpo carente, sua fome de amor e carinho visível em seus ossos, em suas costelas, seus joelhos ossudos, suas mãos magras e nervosas, que pareciam renascer para as carícias. Essa mulher desabrochava diante dos meus olhos, suas formas agudas, quebradas, se abrandavam, e eu pude imaginá-la mais roliça, mais cheia e mais feliz. Deixei a sua boca e suas mãos ávidas percorrerem-me toda. Deixei que sua saliva me banhasse, como uma vaca à sua bezerra. Ela me banharia inteira, colocando-me até de bruço, para lamber-me por trás...e atrás. Deixei-a fazer tudo o que quis, gemendo... as duas.

Eu sentia que nutria seu corpo maltratado tanto tempo por ela mesma, ou pelo mundo. Eu sentia, por instinto, que podia assim, com minha volúpia, meu prazer, minha passividade ativa, transformar essa lagarta numa borboleta deslumbrante. Eu sentia o meu poder de jovem ninfa. E jamais me esqueceria... ou me arrependeria desses momentos.
Acariciei-a, então, mais ativamente, seu rosto, seus pequenos seios tardios, virgens, que tremiam, e que eu faria desabrochar.

Ela, a minha preceptora, chorava diante mim, como uma aluna, comovida e grata... para sempre.

Alma Welt

21/05/2006

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